O motivo desse texto é a orfandade dos sem-trema, as vítimas da Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa. Depois dela, nem o sabor da linguiça será o mesmo. Desde o dia primeiro de 2016, o novo acordo e único formato da língua reconhecido no Brasil. E, vigora desde 2009, quando trema da linguiça desapareceu e o acento das europeias também, sem contar o hífen do dia a dia desapareceram.
Abandonaram-nos. Quer ter uma ideia? Só se for sem o acento. O objetivo é unificar a escrita da língua portuguesa, a última flor do Lácio, nas nações de língua portuguesa, ou seja, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Entre as mudanças na língua portuguesa ocasionadas pela Reforma Ortográfica podemos enumerar, o fim do trema, alterações na forma de acentuar palavras com ditongos abertos e que sejam hiatos, supressão de acentos diferenciais e os acentos tônicos, e aduziu novas regras para o uso do hífen e ainda a inclusão de w, k e y ao idioma.
Em 1931 fora realizado o primeiro acordo ortográfico luso-brasileiro, mas não foi efetivado na prática. Depois, em 1946, a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira fora adotada em Portugal, porém, não no Brasil. Já em 1986, sete países de língua portuguesa consolidaram as Bases Analíticas da Ortografia Simplificada da Língua Portuguesa de 1945 e que também não chegaram a ser implementadas.
Em 1990, os mesmos países se comprometeram em unificar a grafia do idioma, segundo a proposta apresentada pela Academia de Ciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras.
Passaram-se mais dezesseis anos para que fossem alcançadas as três adesões necessárias para que o acordo fosse cumprido. Foi em 2006 que São Tomé, Príncipe e Cabo Verde se uniram ao Brasil e, finalmente, ratificaram o novo acordo. Somente em maio de 2008 que o Parlamento lusitano ratificou o acordo para unificação da ortografia em todas as nações de língua portuguesa.
A língua como o português, o inglês, o espanhol e o basco (falado na região dos Pirineus, incluindo-se parte da França e da Espanha) corresponde ao sistema formado por regras e valores presentes na mente dos falantes de certa comunidade linguística e aprendido devido aos inúmeros atos de fala com que têm contato.
Idioma é termo referente à língua usado para identificar uma nação em relação às demais e está relacionado à existência de um estado político. Por isso, espanhol é um idioma, mas o basco, não, e o português é uma língua e um idioma.
Ou seja, o idioma sempre está vinculado à língua oficial de um país. Já dialeto é a designação para variedades linguísticas, que podem ser regionais (como o português falado em Recife e o champanhês, falado na região francesa de Champanhe, com seus sotaques e suas expressões particulares) ou sociais (o português falado pelos economistas, com jargões).
A língua é, sobretudo, um instrumento de comunicação, e é essa a sua maior finalidade. Ela pertence aos falantes, que dela apropriam-se para estabelecer interações com a sociedade onde vivem.
Quando afirmamos que a língua é um instrumento do povo, significa que, embora existam as normas gramaticais que regem um idioma, cada falante opta por uma forma de expressão que mais lhe convém, originando aquilo que chamamos de fala.
A fala, embora possa ser criativa, deve ser regida por regras maiores e socialmente estabelecidas, caso contrário, cada um de nós criaria sua própria língua, o que impossibilitaria a comunicação.
Na fala encontramos as variações linguísticas, que jamais devem ser vistas como transgressões ao idioma, mas sim como uma prova de que a língua é viva e dinâmica.
O idioma é uma língua própria de um povo. Está relacionado com a existência de um Estado político, sendo utilizado para identificar uma nação em relação às demais. Por exemplo, no Brasil, o idioma oficial é o português, comum à maioria dos falantes.
Mesmo que existam comunidades que utilizem outros idiomas, apenas a língua portuguesa recebe o status de língua oficial. Existem países, como o Canadá, por exemplo, em que dois idiomas são considerados como oficiais, nesse caso, o francês e o inglês.
Esclarecemos que o dialeto é a variedade de uma língua própria de uma região ou território e está relacionado com as variações linguísticas encontradas na fala de determinados grupos sociais.
As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir da análise de três diferentes fenômenos: exposição aos saberes convencionais (diferentes grupos sociais com maior ou menor acesso à educação formal utilizam a língua de maneiras diferentes); situação de uso (os falantes adequam-se linguisticamente às situações comunicacionais de acordo com o nível de formalidade) e contexto sociocultural (gírias e jargões podem dizer muito sobre grupos específicos formados por algum tipo de “simbiose” cultural).
Estima-se que, antes da chegada dos portugueses no Brasil, havia entre 600 e mil línguas sendo faladas pelos nativos indígenas. Hoje, existem um total de 154 línguas indígenas faladas no Brasil.
Algumas delas podem ser formadas por subfamílias, pequenas ou grandes. Como exemplo de famílias linguísticas grandes temos a tupi, macro-jê, aruak, karib e pano. Já as de famílias pequenas são as yanomami, naduhup e nambikwara. Um fato interessante é que a subfamília tupi-guarani, apesar de grande, não é considerada uma família. Ela possui 40 línguas ou dialetos identificados no Brasil e nos países adjacentes, oriundos da língua-mãe proto-tupi-guarani.
Observamos também algumas outras variedades do português brasileiro:
Dialeto nortista (amazofonia): falado pelos habitantes da região norte do país, ou seja, pela região amazônica, abrangendo os estados do Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e parte do Pará.
Dialeto sertanejo: falado nas regiões do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e parte de Minas Gerais.
Dialeto Sulista: falado na região sul do país, abrangendo principalmente os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Alguns estudiosos incluem também alguns Estados do sudeste e centro oeste.
Dialeto baiano (baianês): falado na região geográfica que abrange o estado da Bahia, além de Sergipe, norte de Minas Gerais, leste de Goiás e Tocantins.
Uma observação importante é que o chamado dialeto baiano, embora se encontrando na região nordeste, tem influência sobre outras áreas vizinhas como Minas Gerais, Goiás e Tocantins, sendo, portanto, considerado por alguns como parte dos dialetos sulistas.
Aliás, este termo talvez não seja o mais adequado, já que difere muito dos dialetos do sul do país, fato que leva alguns estudiosos a criarem o termo centro-sulista para designar este dialeto.
Dialeto nordestino: falado nos Estados do Nordeste, porém com claras subdivisões e variações entre estados, regiões ou até mesmo cidades. Contém, contudo, características bem semelhantes e por isso se mantém em um mesmo grupo.
Outros dialetos, pertencentes a áreas menores, podem ser distinguidos, por possuírem características próprias no seu falar:
Dialeto interiorano: regiões agreste e sertão do nordeste. caracterizado por apresentar forte som em /di/ e /ti/.
Dialeto Mateiro: zona da mata. Parecido com o dialeto interiorano, porém a maneira de falar é “mais rápida”.
Dialeto Recifense: região metropolitana do Recife. Possui as características das duas anteriores, porém a palatalização das fricativas ocorre antes de todas as consoantes.
Dialeto Florianopolitano (manézinho): Florianópolis, SC. O falar é uma junção do português açoriano com o português madeirense, sofrendo influência do falar indígena.
Dialeto Carioca: região metropolitana do Rio de Janeiro. O falar traz muitas características do português lusitano, como o “s” chiado e o uso das vogais mais abertas mesmo em contextos que favorecem o fechamento da mesma.
Dialeto brasiliense (candango): Cidade de Brasília e região metropolitana. É um dialeto mais neutro, uma mistura dos demais, decorrente da grande migração ocorrida para esta cidade durante a sua construção. Sendo considerado por muitos como um “sotaque branco”.
Dialeto cearense: falado no Estado do Ceará. Possui variações internas, mas se caracteriza basicamente pelo uso do pronome “tu” com maior frequência em vez de “você”, além de características em comum com os demais dialetos nordestinos. Possui também muitas particularidades em seu léxico.
Dialeto gaúcho: falado no Rio Grande do Sul e em parte do Paraná e de Santa Catarina. É caracterizado por particularidades em seu léxico, influências do italiano, espanhol e alemão. Quanto aos aspectos fonéticos possui também diversas características particulares, podendo ser facilmente distinguidos entre os demais dialetos brasileiros.
Dialeto Mineiro (montanhês): região central de Minas Gerais. Facilmente distinguível dos demais dialetos brasileiros, principalmente pelas características fonéticas bem particulares.
As variações linguísticas podem ser diatópicas (regionais), diacrônicas (históricas), diafásicas ou estilísticas e, a diastrática (sociais). No variado caldeirão linguístico do Brasil, são os dialetos do Rio de Janeiro e de São Paulo os mais presentes nos meios de comunicação.
Aproveito para indicar material gratuito, referente a Cartilha sobre novo acordo ortográfico da língua portuguesa vide em:
https://rockcontent.com/br/talent-blog/cartilha-de-nova-ortografia-da-rock-content/
https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/188/Guia_Reforma_Ortografica_CP.pdf
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/508145/000997415.pdf
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/acordoortografico.pd
De qualquer maneira, ratifico minha orfandade do trema, e fico zambeta diante tanta modificação trazida pela Reforma Ortográfica e, por vezes, sinceramente, sinto-me dentro de um balaio de gato.