Nos dias atuais muito se fala de paz, mas pouco se faz.
Há algum tempo teve EUA x Iraque, agora EUA x Afeganistão, conflito entre nações, raças, gêneros, ideologias, religiões, e por aí segue até o infinito.
Mas o que é paz?
Imanuel Kant, em sua obra “a Paz Perpétua”, definiu a paz como “ausência de guerra e de preparação de guerra ofensiva entre Estados”.
Tradicionalmente, o conceito de paz teve três componentes e um sentido de ordem jurídica associada a palavra latina pax; um sentido de relações sociais, éticas, expresso pela palavra grega eirené; e um sentido de bem-estar emanado da plenitude espiritual, expresso pela palavra shalom.
Desde Kant até hoje, o conceito de paz foi-se estendendo do plano das relações entre estados a qualquer outro plano de relações entre grupos ou pessoas, e passou a significar não só a ausência de guerra, mas também a ausência de violência.
Mister salientar que violência não significa unicamente ação violenta direta, mas entram nele outros traços da “não-violência”, como justiça ou libertação da opressão.
Durante os anos começou a surgir uma concepção de paz mais ampla, segundo a qual a paz seria uma relação entre indivíduos, grupos, nações ou, inclusive, unidades maiores, apoiada na cooperação.
Para Galtung (1969, 1985), existe um princípio básico, uma afirmação para examinar a ideia de paz: “a paz é a ausência de violência”. Tal princípio vai de encontro a ideia de Kant.
Mas o que é a violência?
Conforme Galtung (1985), “a violência é aquilo que aumenta a distância entre o potencial e o efetivo, e aquilo que cria obstáculos ao decréscimo dessa distância”.
Galtung (1990), traz um quesito interessante para o que vivemos hoje, que é a chamada “violência cultural”. Ela é definida como “aspectos da cultura, esfera simbólica da nossa existência – exemplificada pela religião, pela ideologia, a linguagem e a arte, a ciência, dentre outros – que podem ser utilizados para justificar ou legitimar a violência, tanto em sua forma estrutural quanto em sua forma direta”.
Nos dias atuais, ter uma visão própria é sinônimo de conflito. As pessoas não podem ter uma opinião formada a partir dos próprios princípios, não podem escolher A ou B sem ser ofendido por um dos lados. Não pode aceitar sem concordar.
Hoje a sociedade impõe o que você tem que aceitar e concordar. Sem um não há outro. O que é o mais absurdo quando existe a liberdade de expressão, de livre pensamento, religião, etc., tudo em atenção ao art. 5º, VI da Constituição Federal.
A chave da cultura de paz é a transformação da competição em cooperação, como que o conflito é tratado de maneira que todos os envolvidos beneficiem-se.
O processo de uma cultura de paz está marcado pela acessibilidade e o fluxo livre de informação.
Uma cultura de paz não pode ser imposta do exterior. É um processo que surge a partir das crenças e comportamentos dos indivíduos por seus gestos e desenvolve-se de maneira diferente em cada um, país, região, etc.
A teoria das necessidades humanas (Burton, 1990; Azar 1990) afirma que a resolução de conflitos verdadeira não pode ocorrer até que as necessidades psicológicas básicas – tais como identidade, reconhecimento, segurança e igualdade – não tenham sido satisfeitas.
A questão é como chegar a tal satisfação evitando, ao mesmo tempo, que se dê uma oposição entre o “nós” e o “eles”, produzindo uma menos-valia do outro, desprezando a diversidade.
É necessário o entendimento que se tratam de pessoas, nações. É necessário ressaltar algo superior, que é a humanidade, independente de quaisquer diferenças entre ambos.
É possível aceitar sem concordar.
O art. 5, VI da CF expressa que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
A violência está justamente em não aceitar as diferenças e buscar forçar a outra parte a entender o seu lado.
Estamos falando da tendência das pessoas a fechar-se e, um ponto de vista particular sobre o outro e sobre o assunto em disputa, aderindo a ele de maneira extrema e frequentemente irracional.
“A empatia, diferente da simpatia, não implica em afeto ou aprovação, mas supõe uma compreensão realista dos pensamentos e sentimentos dos outros”. (White, 1982).
O conflito é um traço inevitável das relações sociais, é da natureza, seja humana ou animal.
Sun Tzu (A haga Arte da Guerra, 480-211 a.C.) nos mostra que “o conflito é luz e sombra, perigo e oportunidade, fortaleza e debilidade, o impulso para avançar e obstáculo que se opõe; Todos os conflitos contêm a semente da criação e da destruição”.
É a forma como enfrentamos o conflito que fará com que tome um curso destrutivo ou produtivo. O ponto não é eliminar o conflito, mas aprender a dirigi-lo de tal maneira que controlemos os elementos destrutivos e deixemos via livre para os produtivos.
Em qualquer caso, para diminuir os conflitos deve-se trabalhar as habilidades de comunicação: a escuta ativa, ler nas entrelinhas, entender não só o que se diz, mas também o que quer dizer, emissão de mensagens claras
O objetivo da ideia de paz é transformar o conflito em cooperação para que assim possa se chegar em um denominador comum.
Se quisermos mudar o padrão do conflito, temos que aprender e mudar nossos padrões, fazendo com que a violência se transforme em consciência e atitudes positivas.