Em tempos onde a cada dia surge um empreendedor de palco, sinto-me obrigado a começar o texto esclarecendo que não me perfilo a esta classe. O que explanarei nessas breves linhas e nos textos futuros é fruto de um trabalho intenso e diário, não de um estudo sobre regras gerais sobre como abrir/gerir um negócio.
Antes de qualquer outra coisa, empreender requer autoconhecimento. Autoconhecimento para decidir se sua felicidade está na segurança/estabilidade ou na possibilidade de criar algo que possa tornar o mundo melhor.
Parto da premissa de que empreender está sempre distante da primeira hipótese, pelo menos no início. Ao iniciar um negócio, por mais bem elaborado que tenha sido seu planejamento estratégico/modelo de negócios, não existe a certeza de que haverá clientes, logo não há que se falar em estabilidade.
Quando se é empregado, a certeza que se tem é de que ao final do mês haverá um salário a receber. Quando se é empregador, a certeza é de que ao final do mês haverá salários, aluguel, energia, condomínio, internet, telefone, impostos e tantas outras contas para pagar. Apenas depois de honrar com esses compromissos é que se deve pensar em alguma retirada.
Apenas um autoconhecimento honesto é que poderá te mostrar em qual das duas modalidades vocês se encaixa. Empreender não é para todos, mas ser empregado também não é. As mesmas ondas que causam náuseas em alguns são fonte de energia para outros.
Veja, não existe lado certo e errado, melhor ou pior; existe o seu lado. Descubra qual é e coloque as mãos na massa.
Se decidir empreender, bem vindo! Mas venha preparado, ciente de que não vai ser fácil. Não existe fórmula mágica. Chegar cedo ao escritório, antes de todo mundo, estar sempre alinhado, trabalhar arduamente, ser o último a sair; todos esses são requisitos obrigatórios e estão longe de garantir o sucesso da empreitada.
Controlar/cortar os gastos, mesmo sendo essencial, também não é tão simples como descrevem alguns grandes oradores à plateia.
Aceite que o medo e o frio na barriga serão seus companheiros mais fieis até o final da sua jornada. Demonstrá-los, porém, é, na maioria das vezes, desaconselhável. A maior parte das pessoas ainda acredita que demonstrar fraquezas é algo ruim e, definitivamente, não vale a pena tentar convence-las do contrário neste momento.
É muito importante, também, conhecer as regras do jogo antes de decidir jogá-lo, isso economiza tempo e energia. Seria no mínimo estranho se indignar, no meio de um jogo de futebol, que a bola não pode ser passada com as mãos pelos dez jogadores de linha. O mesmo raciocínio se aplica aos negócios.
Isso não significa que tradições não possam ser mudadas; significa que há um momento propício para isso.
Vejo brilhantes advogados em início de carreira se queixando (e até mesmo pensando em abandonar o escritório) porque muitos clientes deixam de contratá-los em razão de os considerar inexperientes; talvez jovens demais para aquela responsabilidade.
Ora, a advocacia é um mercado extremamente tradicional, que já contém diversos sobrenomes consagrados. Esse tipo de dificuldade é inerente à profissão, especialmente no início de carreira para aqueles que preferiram se lançar no mercado.
Cabe a nós, jovens advogados, quebrar esse paradigma. Uma apresentação mais formal, demonstrando total domínio técnico do assunto, mas sem perder de vista o toque humanitário, tantas vezes esquecido pelas grandes bancas, pode ser o seu diferencial para dar ao cliente a confiança que ele precisa para te contratar. Se não for, paciência. A resiliência talvez seja a companheira mais próxima do sucesso.
Sobre a captação de clientes, este é um dos três pilares fundamentais, na minha concepção, para que um escritório cresça de forma sustentável. Os outros dois são a organização interna e a qualidade técnica. A intenção é tratar desses três pilares, que estão fortemente interligados, de forma separada, em textos individuais, os quais publicarei semanalmente.