Resumo: A Semana da Arte Moderna no Brasil de 1922 trouxe a tentativa de esboçar uma identidade nacional no campo das artes, e se libertar dos ditames europeus. Esse evento ao completar um século se faz presente até hoje em nosso país. Curiosamente, foi o calo de Villa-Lobos o último escândalo daquela semana.

Palavras-Chave: Arte. Modernismo. Semana de 1922. Cultura. Nacionalismo.

 

A semana da Arte Moderna no Brasil corresponde a primeira manifestação coletiva pública na história cultural brasileira em prol de espírito novo e moderno em franca oposição à cultura e à arte de teor conservador, prevalentes no Brasil, desde o século XIX.

Cada dia da referida semana tratou de um aspecto cultural, a saber: pintura, escultura, poesia, literatura e música. Marcou o início do modernismo no Brasil e se tornou referência cultural do século XX.

Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret,

Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti, Agenor Fernandes Barbosa entre outros, e como um dos organizadores o intelectual Rubens Borba de Moraes que,  entretanto, por estar doente, dela não participou.

Na ocasião da Semana de Arte Moderna, Tarsila do Amaral, considerada um dos  grandes pilares do modernismo brasileiro, se encontrava em Paris e, por esse motivo, não participou do evento. Muitos dos idealizadores  do evento eram quatrocentões.

Com uma renovação de linguagem, em busca de experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado. Temporalmente aconteceu em meio as turbulências políticas, sociais, econômicas e culturas. E, as então novas vanguardas estéticas surgiam e, causavam espanto com as novas linguagens desprovidas de regras.

É fato que a Semana de 1922 não fora bem entendida em sua época, mas se encaixou no contexto da República Velha (1889-1930) controlada pelas oligarquias cafeeiras e as notórias famílias quatrocentonas e, ainda, azeitada pela política do café com lei.

Enfim, o capitalismo florescia no Brasil e, consolidava a república e as elites influenciadas por padrões estéticos europeus mais tradicionais. Seu propósito era a renovação artística e cultural da cidade com a perfeita demonstração do que existe em nosso meio em termos de escultura, arquitetura, música e literatura.

A intelectualidade brasileira da época sentia necessidade de abandonar os velhos ideais estéticos do século XIX ainda em voga no país. Algumas notícias a respeito de experiências estéticas que ocorriam na Europa, naquele momento, mas ainda não se tinha certeza do que realmente estava acontecendo e quais rumos seriam seguidos.

O principal descontentamento com a estética situava-se no campo da literatura e poesia. E, os exemplares do futurismo italiano já chegavam ao Brasil e passaram a influenciar alguns escritores tais como Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida.

A pintora Anita Malfatti regressava da Europa e trouxe experiências das novas vanguarda, e, em 1917 realizou o que foi chamada de primeira exposição modernista brasileira, com nítidas influências do cubismo, expressionismo e futurismo. E, causou escândalo e fora alvo de severas críticas proferidas por Monteiro Lobato, que serviu para que a Semana da Arte tivesse sucesso e, com o passar do tempo, veio a galgar maior destaque.

Segunda exposição de Anita Malfatti, exibindo quadros expressionistas, criticados com dureza por Monteiro Lobato, no artigo “Paranoia ou Mistificação?”[1], publicado no jornal O Estado de S. Paulo, Esse artigo é considerado o “estopim” de modernismo brasileiro, já que provocou a união dos jovens artistas, levando-os a discutir a necessidade de divulgar coletivamente o movimento.

Em 17 de fevereiro (sexta-feira) de 1922 que foi o dia mais tranquilo da semana, apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de vários músicos.

O público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato, e outro com chinelo;  o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado.

Nota-se até as últimas décadas do século XX a influência da Semana de 22, principalmente no Tropicalismo e na geração da Lira Paulistana nos anos 70 (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, entre outros). O próprio nome Lira Paulistana é tirado de uma obra de Mário de Andrade.

Mesmo a Bossa Nova deve muito à turma modernista, pela sua lição peculiar de “antropofagia”, traduzindo a influência da música popular norte-americana à linguagem brasileira do samba e do baião.

Entre os movimentos que surgiram na década de 1920, destacam-se: Movimento Pau-Brasil;  Movimento Verde-Amarelo; Movimento Antropofágico.

O modernismo no Brasil deu-se por força de tendências estéticas europeias e que imprimiram nova percepção da arte no século XX. Bastante influenciado por correntes antiacadêmicas de novas produções artísticas da Europa e engajadas na consolidação de nova consciência criativa brasileira que não se restringisse a copiar as escolas europeias, mas que fosse, preocupada com o estabelecimento de uma arte autenticamente nacional, os artistas, músicos e  escritores modernistas revolucionaram aquilo que se entendia por arte, até aquele momento.

É cediço que a sociedade moderna é, portanto, a sociedade industrializada e, que a noção de modernidade se relaciona ao conjunto de mudanças gestado e trazido pela industrialização, acarretando tanto transformações políticas, sociais e culturais. É passando pelas modificações abrangentes da industrialização que as sociedades se tornaram modernas. Igualmente as descobertas científicas dos idos de 1900, tais como a teoria da relatividade, de Albert Einstein e as teorias da psicanálise de Sigmund Freud, também alteraram significativamente a maneira como o ser humano compreende o Universo e a si mesmo. A invenção da fotografia e do cinema é igualmente um fator histórico que muito contribuiu para a reinvenção da arte.

[1]  A crítica violenta de Lobato reflete desastrosamente sobre a exposição e a vida familiar de Anita. A artista recebe de volta muito dos quadros que tinham sido vendidos, e evidentemente sofre bastante com tudo isso. Este acontecimento, contudo, cria as bases para uma espécie de divisor de águas. Dessa maneira, o artigo de Monteiro Lobato tem a capacidade de congregar aqueles vários artistas e intelectuais insatisfeitos com os rumos de uma tradição de pensamento e de arte, servindo como um dos estopins da Semana de Arte Moderna de 1922. (Theotonio de Paiva). (….)