Eleições chegando e uma pergunta que muito pouca gente faz: quais as propostas do seu candidato para a cultura?

Se, a rigor, o brasileiro vota sem sequer analisar em quem está depositando sua confiança, imagine só se o assunto é levado em consideração? E a culpa não é apenas do eleitor: tem muito candidato que relega o assunto para uma de suas últimas preocupações, quando nem se preocupa com ele! Infelizmente, em geral, o tema “cultura”, quando contemplado nos planos políticos, o é de forma vaga, generalizada, superficial.

Sempre digo que, no Brasil, existe uma “cultura de falta de cultura”. Nestes tempos para lá de bicudos, em que o artista, sempre mal visto, tem sido demonizado, é de senso-comum achar que cultura é coisa inútil, supérflua, de “vagabundo”. De fato, vivemos em um país desigual, cujas necessidades básicas são urgentes. No entanto, quando ouço tal “argumento”, sempre respondo: experimente viver sem arte. Qualquer que seja. Uma música. A necessidade artística é bem “não-supressivo”, como já diria Antônio Candido, grande teórico da literatura brasileira.

Se este argumento não convence, vamos aos números: segundo dados fáceis de se encontrar na internet, em 2017, negócios criativos (ou seja, ligados à cultura) movimentaram R$ 171,5 bilhões. Isso equivale a 2,6% do PIB. Só o chamado mercado editorial, no Brasil, gerou 54 mil empregos. No ES, segundo a mesma pesquisa, eram em torno de 920 profissionais. Sem contar com outras categorias, como músicos, atores, produtores culturais, dentre tanta gente implicada nesta cadeia profissional.

O próximo candidato a prefeito de Vitória tem consigo um orçamento, um plano (lei 8.718/14), um sistema (lei 8.748/14), uma lei de incentivo (Lei Rubem Braga, 3.730/91), além de aparelhos como o Mucane (Museu do Negro), Fafi, Casa Porto das Artes ou Sambão do Povo. Sem falar de outros municípios, como Vila Velha, Serra, Cariacica ou Cachoeiro, que conseguem manter alguma estrutura cultural, uns mais, outros menos, dentro dos que conseguem.

Neste 15/11 tão próximo, portanto, antes de votar, analise, também, quais as propostas do seu candidato para a cultura. Se ele tem ações para manter, expandir ou mesmo criar aparatos culturais, seja executando políticas (executivo: prefeitos) ou propondo leis e fiscalizando (legislativo: vereadores). Fazer cultura não se resume à contratação de shows. Fazer cultura é, antes de tudo, fazer cidadania, gerando emprego, renda e dignidade para o munícipe.