Frases nunca ditas…ou falácias populares.

Na sua trivial sabedoria Clarice Lispector nos informou que quem conta um conto aumenta um ponto. Aliás, Clarice é a escritora campeão de citações equivocadas, porém, não é a única. Ao longo da história da humanidade, várias celebridades tanto reais como fictícias assistiram suas palavras serem distorcidas e, quiçá, mal interpretadas.

 

Galileu Galilei[1], físico, filósofo e matemático diante do Santo Ofício quando questionado sobre a defesa do heliocentrismo, que afirmava que a Terra não era o centro do Universo, e, sim, o Sol. Causou polêmica entre os responsáveis pela Inquisição, tão apegados ao geocentrismo. E, sob a grave acusação de heresia, precisou negar suas ideias para escapar a fogueira

 

E, ousadamente, resmungou, no entanto, ela (a Terra) se move. Porém, a frase: E pur si muove! Não consta de nenhum registro oficial e nem mesmo na mais antiga biografia de Galileu, escrita por um de seus discípulos.

 

“Discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Essa famosa frase que é atribuída a Voltaire, o filósofo nunca a pronunciou. E, sim, a sua biógrafa a escritora inglesa Evelyn Beatrice Hall, que simbolizou o direito da livre expressão. Utilizando o pseudônimo de Stephen Tallantyre[2], criou esta frase para resumir o pensamento na biografia intitulada “The Friends of Voltaire”, em 1906.

 

Outra icônica assertiva foi: “Um pequeno passo para o homem, e um grande salto para a humanidade” que teria sido dita por Neil Armstrong ao pisar na Lua. E, tem um problema conceitual. Pois o homem seria equivalente a humanidade, tornando a afirmação redundante, ou simplesmente, sem sentido.

 

O astronauta argumentou que uma palavra se perdeu em meio a grave estática durante a transmissão e, a frase originalmente seria: “Um pequeno passo para um homem, um grande passo para a humanidade”. Existiram várias tentativas públicas de corrigir sua fala, mas todas foram em vão. A sentença ficou imortalizada como aquela que se ouviu em 1969, fazendo ou não sentido.

 

– Elementar, meu caro Watson! era a mais frequente oração proferida por Sherlock Home, mas quem nunca leu nos livros de Sir Arthur Conan Doyle, o detetive usa muitas palavras para enaltecer a superioridade intelectual do amigo, é verdade, que as falas até se aproximam da icônica citação, e precisamente, se encontra em dois de seus contos, a saber: “O Corcunda”, quando Holmes usa a palavra “elementar” e, em “Caixa de Papelão”, quando o detetive dispara um “Superficial”, meu caro Watson!.

 

O Almirante Isoroku Yamamoto, da Marinha do Japão foi o responsável de atacar à base naval estadunidense de Peal Harbor[3], e na manhã de sete de dezembro de 1941. “Temo que tudo o que fizemos foi despertar um gigante adormecido e enchê-lo de terrível determinação”.

 

Esse fatídico dia, o dia que viverá na infâmia, conforme declarou o então Presidente norte-americano, Franklin Roosevelt[4] marcou a entrada dos EUA na Segunda Grande Guerra Mundial e que acarretou à morte de Yamamoto em menos de seis meses depois.

 

Apesar de haver sinceros indícios de arrependimento do almirante japonês, não se tem registro oficial que tenha realmente proferido a famosa frase acima. E, alguns, atribuíram ao filme de 1970, Tora! Tora! Tora! a origem da cogita, mas, segundo dados do Imdb, a citação já era célebre bem antes de chegar ao cinema.

 

Toque outra vez, Sam. Play Again, Sam. A clássica assertiva quase tão famosa quanto “Nós sempre teremos Paris” dita por Rick, o personagem inesquecível de Humphrey Bogart, no final do filme Casablanca é aquele tipo de citação que você nem precisa assistir ao filme para conhecer. Simplesmente porque esta não existe. A frase nunca foi dita, Isla, a personagem interpretada por Ingrid Bergman, chega bem próximo, in litteris: “Toque uma vez, Sam. Pelos velhos tempos”, ela pede ao pianista vivido por Dooley Wilson.

 

Os verdadeiros responsáveis por popularizar a frase inexistente podem ser dois: os Irmãos Marx que no filme intitulado “Uma Noite em Casablanca” de 1946 que usam a fala incorreta, ou então, o diretor e humorista Woody Allen, que tem 1972, lançou Play it again, Sam, um longa-metragem que faz homenagem à clássica película e, chegou ao Brasil sob o título de “Sonhos de um Sedutor”.

 

Outra frase: “Isto é para os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os que veem as coisas de forma diferente. (…) Enquanto alguns os veem como loucos, nós vemos gênios. Porque as pessoas que são loucas o suficiente para pensarem que podem mudar o mundo, são as que de fato o fazem”.

 

Embora não seja apenas uma frase, e, sim, um conjunto destas, seria impossível deixar de comentar sobre o pensamento tantas vezes erroneamente atribuído à Jack Kerouac[5]. O escritor norte-americano não é o autor da famosa citação e nem tampouco Steve Jobs.

 

Foi Rob Siltanen e Ken Segal os autênticos responsáveis pelo texto que fez parte da campanha publicitária THINK DIFFERENT da Apple e que fora veiculada nos anos de 1997 e 1998, em presente em dois comerciais, sob a narrativa sedutora de Richard Dreyfuss.

 

A origem do equívoco deve-se a um autor da geração Beat[6] que provavelmente se dirige a um trecho do filme “On the Road”, de 1957, que também fez referência aos gênios rebeldes.

 

“Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam”.

 

A máxima atribuída à Maquiavel: “Os fins justificam os meios”, é resultante de uma distorção da ideia do filósofo, e da tentativa vã de se resumir seus ensinamentos. Nunca foi dita por Maquiavel. Significa que os governantes devem estar acima da ética dominante para manter ou aumentar seu poder.

 

Popularmente, a frase é também usada como justificativa do emprego de expedientes desonestos ou violentos para a obtenção de determinado fim, supostamente legítimo. Em sua obra, “O Príncipe”, Nicolau Maquiavel cria um verdadeiro “Manual de Política”, sendo interpretado de várias formas, principalmente de maneira injusta e pejorativa.

 

O filósofo e sua obra passaram a ser vistos como perniciosos, sendo então forjada a expressão “os fins justificam os meios”, que não é encontrada em sua obra. Esta expressão significa que não importa qual foi o caminho tomado, desde que o resultado seja vitorioso.

 

Embora a expressão não seja encontrada no texto original, tornou-se uma interpretação popular ou de senso comum, do pensamento maquiavélico, que é uma expressão preconceituosa para se referir ao pensamento maquiaveliano, que é o pensamento de Maquiavel.

 

De fato, Maquiavel nunca disse que os fins justificam os meios. O que ele afirma, em “O Príncipe”, é que o governante deve agir segundo a ética sempre que possível, a partir do conceito de razão de Estado, necessário para a manutenção do poder. A regra, portanto, é a conquista e a manutenção do poder.

 

Conhecido como o “pai da teoria política moderna”, Niccolò Machiavelli (ou Nicolau Maquiavel) foi um diplomata italiano que é lembrado até hoje por seus métodos subversivamente prósperos em um mundo corrupto. Muitas pessoas costumam parafrasear Maquiavel e, o lema mais difundido é “os fins justificam os meios”. Porém, não foi o diplomata quem proferiu esta frase.

 

Atualmente, uma boa parte dos estudiosos acredita que “O Príncipe”, na verdade, é uma sátira de tudo o que Maquiavel viu no mundo da política. Mesmo assim, muitos de seus comentários são tão certeiros como cruéis. Por exemplo:

“Todos veem o que você parece ser, poucos veem o que você realmente é”;

“Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, faça-o de uma vez só”;

“Já que amor e medo dificilmente podem existir juntos, se precisarmos escolher um deles, é muito mais seguro ser temido do que amado”;

“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão”;

“Nunca tente vencer pela força o que pode ser ganho pelo engano”.

 

Adiante, lê-se a passagem que levou as pessoas a acreditarem que Maquiavel é o autor da famosa frase: “Deixe um príncipe ter o crédito, e os meios sempre serão considerados honestos… Porque o vulgar sempre é tomado por aquilo que uma coisa parece ser e pelo que vem dela”[7].

 

A afirmação seria também oposta à doutrina cristã, que diz exatamente o contrário:  “Não se pode justificar uma ação má com boa intenção. O fim não justifica os meio Deus está morto”.

 

De fato, a frase existe nos livros de Nietzsche, mas deve-se considerar o seu contexto. O real sentido remete à figura do Deus clássico, que perdeu o valor entre os homens e, não, mera e simples negação da existência de Deus.

 

Eis que o problema não é a frase, mas o conceito atribuído a Nietzsche. Afinal, o filósofo de fato diz isso: a frase apareceu pela primeira vez em “A gaia ciência” e, está também em sua famosa obra “Assim falou Zaratustra”.

 

Mas as palavras têm sido muito mal-interpretadas. Nietzsche não se referia à morte literal de Deus nem à morte de Jesus Cristo, e essa não era uma simples declaração de ateísmo. Logo em seguida, o filósofo completa: “Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós!”.

 

O pensador queria dizer que a humanidade havia deixado de ter Deus como força ordenadora do mundo e fonte de valores. Com a morte de Deus, metaforiza a morte dos valores sagrados para os homens. Desta forma, eles deixariam de crer em quaisquer valores impostos.

 

Esse tipo de mal-entendido é comum quando se cogita em Nietzsche. “O seu hábito de efetivamente utilizar máximas e aforismos agressivos em seus livros acabou por transformá-lo em um pensador muito citado e pouco compreendido”, explica Gianpaolo. “E suas máximas, mesmo quando citadas corretamente, muitas vezes se perdem: o que para o pensador alemão era sobretudo uma provocação, para muitos se torna uma verdade incontestável e guia para a vida, no mais puro e estilo autoajuda”, completa.

 

“Se não têm pão, que comam brioches”. Um mal entendido e, talvez, uma verdadeira injustiça com Maria Antonieta. Graças a um comentário pouco claro na autobiografia de Rousseau, onde citou uma “grande princesa”.

 

A famosa frase serviu como argumento contra Maria Antonieta durante a Revolução Francesa.  A rainha a teria dito durante sua coroação, em 1774, quando soube que o povo das províncias francesas não tinha pão para comer.

 

Só que não.  A história veio de uma passagem precisamente na autobiografia “Confissões”, de Jean-Jacques Rousseau, que disse: “Recordo-me de uma grande princesa a quem se dizia que os camponeses não tinham pão, e que respondeu: ‘Pois que comam brioche”.

 

Os registros históricos disponíveis, entretanto, mostram que, na época de sua coroação, Maria Antonieta se preocupava com a situação dos pobres. Numa de suas cartas à mãe, chegou até a criticar o alto preço do pão. Especula-se que Rousseau na verdade se referia a Maria Teresa de Espanha.

 

 

“A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração” Geralmente atribuída a Einstein, mas na verdade dita pelo igualmente genial Thomas Edson[8].

 

“Só os mortos conhecem o fim da guerra”, atribuída a Platão. Mas, nunca dita pelo filósofo. O culpado: o comandante militar norte-americano Douglas MacArthur, filho de um dos grandes heróis da Guerra da Secessão.

 

Em um discurso nos anos 60, o militar atribuiu a frase a Platão. No entanto, as palavras foram escritas pelo filósofo, poeta e ensaísta espanhol George Santayana no livro “Solilóquios na Inglaterra”, de 1922.

 

Pouco após o fim da Primeira Guerra Mundial, Santayana escreveu: “E os pobres coitados acham que estão a salvo! Eles acham que a guerra acabou!  Apenas os mortos viram o fim da guerra”. Nada a ver com o filósofo grego.  A frase não me parece nem vagamente adequada à expressão das principais ideias do discípulo de Sócrates”, afirma Gianpaolo Dorigo.

 

“Se Deus não existe, tudo é permitido”, atribuída a Dostoiévski; No texto “O existencialismo é um humanismo”, Jean-Paul Sartre diz: “Dostoiévski escreveu: ‘Se Deus não existisse, tudo seria permitido’.

 

Eis o ponto de partida do existencialismo”. O escritor russo de fato inspirou os existencialistas, mas ele nunca disse isso.  O mais próximo disso, que está em “Os Irmãos Karamazov”, é: “[…] é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios”.

 

Neste sentido, “tudo é permitido […] Como Deus e a imortalidade não existem, é permitido ao homem novo tornar-se um homem-deus, seja ele o único no mundo a viver assim”.

 

Outra frase que não foi dita por General De Gaulle: O Brasil não é um país sério. Foi personagem fundamental no conflito diplomático envolvendo o Brasil e a França, que ficou conhecido como Guerra da Lagosta[9].

Em 1962, quando foi o intermediário entre o governo brasileiro e Charles de Gaulle, e autor da famosa frase “O Brasil não é um país sério” (erroneamente atribuída a de Gaulle).

 

Entre fevereiro e março de 1963, durante um incidente diplomático envolvendo o Brasil e a França relativo à pesca de lagostas, houve um pequeno estremecimento nas  relações entre os dois países e popularizou-se a versão de que Charles de Gaulle, presidente da França na época, teria dito que o Brasil não era um país sério.

 

A frase teve imensa repercussão e ficou famosa no Brasil inteiro, causando todo o tipo de reação, quase sempre sem levar em conta o contexto em que a frase teria sido dita. Muitos criticaram o presidente francês e alguns passaram a censurar todos os franceses, a tentar contradizê-los e a questioná-los sobre o que pensavam do Brasil.

 

Havia, porém, um reconhecimento geral por parte da maioria da população brasileira de certos abusos que ocorriam no país em relação ao seu ambiente políticos, aos casos de corrupção, aos problemas na formação educacional, a gestão de gastos públicos e à atuação nas relações exteriores, que revelavam factualmente a falta de seriedade brasileira.

 

Em 1979, o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza publicou um livro em que se assumia como autor da frase.  Era, na época do incidente que ficou conhecido como “Guerra da Lagosta”, embaixador do Brasil na França, cargo que ocupou entre 1956 e 1964.

 

Carlos Alves de Souza teria dito que o Brasil não era um país sério em uma conversa informal com o jornalista brasileiro Luís Edgar de Andrade, que era correspondente na França do Jornal do Brasil.

Conforme o embaixador brasileiro informa em seu livro: “Um embaixador em tempos de crise”: “É evidente que, sendo hóspede do General De Gaulle, homem difícil, porém, muito bem educado, principalmente em razão de sua formação e temperamento, não pronunciaria frase tão francamente inamistosa em relação ao país do Chefe da Missão que ele mandara chamar.

Pronunciei essa frase numa conversa informal com uma pessoa das minhas relações. A história está repleta desses equívocos.”.

 

Para fechar essa crônica, utilizarei uma frase de Rabindranath Tagore[10] que é muito oportuna para o momento atual: “A verdadeira amizade é como fosforescência, resplandece melhor quando tudo escurece”. A crise é passageira e pode ser uma boa mestra.

Notas de Rodapé

[1] Galileu Galilei (em italiano: Galileo Galilei; Pisa, 15 de fevereiro de 1564 — Florença, 8 de janeiro de 1642) foi um físico, matemático, astrônomo e filósofo florentino. Foi personalidade fundamental na revolução científica. Foi o mais velho dos sete filhos do alaudista Vincenzo Galilei e de Giulia Ammannati.

Viveu grande parte de sua vida entre Pisa e Florença, originalmente na época de seu nascimento ambas partes do Ducado de Florença e, mais tarde, na época de sua morte, integrantes do Grão-Ducado da Toscana.  O físico desenvolveu ainda vários instrumentos como a balança hidrostática, um tipo de compasso geométrico que permitia medir ângulos e áreas, o termômetro de Galileu e o precursor do relógio de pêndulo.

O método empírico, defendido por Galileu, constitui um corte com o método aristotélico mais abstrato utilizado nessa época, devido a isto Galileu é considerado como o “pai da ciência moderna”.

O eco das descobertas astronômicas de Galileu foi imediato, devido à publicação do Sidereus Nuncius foi nomeado matemático e filósofo grã-ducal, sem obrigação de ensinar. Entretanto observa as manchas solares, que o leva a admitir que os objetos celestes também são “corruptíveis” e ocasiona uma troca de correspondência  com Christoph Scheiner, que punha a hipótese das manchas serem satélites, ao contrário da opinião de Galileu, que comprovou que estas eram contínuas com a superfície  do sol, e os anéis de Saturno, que confunde com dois satélites devido à baixa resolução do seu telescópio. Observa ainda as fases de Vénus, que utiliza como uma prova mais do sistema heliocêntrico. Abandonou então Pádua e foi viver em Florença.

[2] Evelyn Beatrice Hall (1868 – 1939), que escrevia sob o pseudônimo de S.G. Tallentyre, foi uma escritora britânica mais conhecida por sua biografia de Voltaire intitulada “Os Amigos de Voltaire”, que concluiu em 1906.  Na biografia sobre Voltaire, Hall escreveu a frase “Eu desaprovo o que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo” (que muitas vezes é atribuída de forma errônea a Voltaire) como uma ilustração das crenças de Voltaire.

A citação de Evelyn Beatrice Hall é muito referenciada para descrever o princípio da liberdade de expressão.  Evelyn Beatrice Hall parecia ser uma influência importante na vida de seu cunhado, Hugh Stowell Scott (pseudônimo de Henry Seton Merriman).

Após a sua morte, em 1903, Scott deixou 5.000 libras a Hall, escrevendo “em sinal de minha gratidão pela sua assistência continuada e aconselhamento literário, sem os quais eu nunca teria sido capaz de ter ganhado a vida com minha caneta.

[3] Pearl Harbor ou o Porto das Pérolas é uma base naval dos Estados Unidos e o quartel-general da frota norte-americana do Pacífico, na ilha de O’ahu, no Havaí, perto de Honolulu. Em livros mais antigos em português, usa-se por vezes a designação Porto das Pérolas.

[4] O saldo do dia 7 de dezembro de 1941 foi: cerca de 2.500 militares americanos e quase 70 civis mortos; 18 navios e 188 aviões destruídos. O presidente americano Franklin Roosevelt classificou o golpe de “uma data que viverá na infâmia (a date which will live in infamy)” e pediu ao Congresso americano uma declaração de guerra ao Japão. Com isso, a Segunda Guerra Mundial alastrou-se pelos cinco continentes.

O presidente dos EUA usou uma faixa preta em seu braço para simbolizar o luto pelas vidas perdidas em Pearl Harbor. Depois disso, grupos de defesa norte-americanos foram mobilizados nas duas costas do país. Em Nova York, cidadãos japoneses foram transportados para Ilha Ellis e mantidos em custódia por tempo indeterminado.

Relatórios sobre a suposta atividade de espionagem por parte dos japoneses-americanos começaram a chegar a Washington, assim como nipo-americanos pagaram por espaços nos jornais para declarar lealdade aos EUA. Era o começo de um contra-ataque que causaria terríveis consequências ao Japão.

[5] Jean-Louis Lebris de Kerouac (1922—1969), mais conhecido por Jack Kerouac, foi um escritor estadunidense de ascendência franco-canadense e um dos líderes do movimento literário conhecido como Geração beat. Kerouac “começou” escrevendo um romance, The Town and The City, sobre os tormentos sofridos na tentativa de equilibrar a vida selvagem da cidade com os seus valores do velho mundo.

Segundo relatado em seus diários, publicados em 2004, Kerouac tentou dar ao livro excessivo planejamento e regularização, o que tornou sua composição cansativa e desgastante. The Town and The City foi o seu primeiro romance publicado, porém não chegou a lhe trazer fama. Devido também à má experiência, passaria muito tempo sem publicar novamente. Durante o período que se sucedeu, criou os rascunhos de outras grandes obras suas – Doctor Sax e On the Road.

Na tentativa de escrever sobre as surpreendentes viagens que vinha fazendo com o amigo de Columbia, Neal Cassady, Kerouac experimentou formas mais livres e espontâneas de escrever, contando as suas viagens exatamente como elas tinham acontecido, sem parar para pensar ou formular frases.

O manuscrito resultante sofreria 7 anos de rejeição até ser publicado. Jack escrevia vários romances, que ia guardando em sua mochila, enquanto vagava de um lado a outro do país.

No verão de 1953 Jack Kerouac envolveu-se com uma moça negra, experiência que usou para escrever em 1958 “Os Subterrâneos”. Escrito em três dias e três noites, Os Subterrâneos foi gerado a partir do mesmo tipo de rompante inspiracional que produziu o grande clássico de Kerouac, On the Road (traduzido no Brasil em 1984 como Pé na Estrada, por Eduardo Bueno). Em 1955 Kerouac apaixonou-se por uma prostituta indígena chamada Esperanza.  Foi publicado pela primeira vez em 1960 e baseado em fatos biográficos.

O sucesso e o prestígio conquistados após a publicação de “On the Road“, em 1957, deixaram Jack atormentado. Apesar de eventuais críticas positivas que realçavam o caráter inovador da obra, muitos o tacharam de subliterato e imoral. A primeira resenha escrita por Gilbert Millstein no jornal “The New York Times” foi satisfatória.

Ele recorda no documentário “O Rei dos Beats” qual foi sua sensação ao ler o livro: “Eu li o livro e fiquei simplesmente estupefato. Eu disse ali que acreditava naquilo como a expressão perfeita de uma geração, assim como Hemingway em “The Sun Also Rises” também foi uma expressão da sua geração naquela época”.  O efeito imediato da fama causou apreensão e relutância em Jack.

Joyce Johnson, a jovem namorada com quem o escritor morava na época, relembra a reação dele diante da celebração instantânea: “Ele estava agitado e com medo. Ele também sentia que teria de viver para sua imagem pública, pois todos esperariam que ele fosse como Dean Moriarty ou Neal Cassady, mas ele era só Jack Kerouac.

Era bastante tímido, preferia ficar num canto olhando, refletindo.” Logo após a publicação, Jack trabalhou intensamente em outros projetos. “The Dharma Bums” (Brasil: Os Vagabundos Iluminados /Portugal: Os Vagabundos do Dharma (2000) ou Os Vagabundos da verdade (1965)), lançado em 1958, foi a tentativa do escritor de estabelecer afinidades com o Budismo. É o relato de uma escalada com o amigo poeta Gary Snyder em busca de realizações espirituais.

[6] Geração Beat (Beat Generation, em inglês) ou movimento beat é um termo usado tanto para descrever um grupo de norte-americanos,  principalmente escritores e poetas, que vieram a se tornar conhecidos no final da década de 1950 e no começo da década de 1960,  quanto ao fenômeno cultural que eles inspiraram (posteriormente chamados ou confundidos aos beatniks, nome este de origem controversa,

considerado por muitos um termo pejorativo). Estes artistas levavam vida nômade ou fundavam comunidades. Foram, desta forma, o embrião do movimento hippie, se confundindo com este movimento, posteriormente. Muitos remanescentes hippies se auto-intitulam beatniks e um dos principais porta-vozes pop do movimento hippie, John Lennon, se inspirou na palavra beat para batizar o seu grupo musical, The Beatles.

Na verdade, a “Beat generation“, tal como os Beatles, o movimento hippie e, antes de todos estes, o Existencialismo, fizeram parte de um movimento maior, hoje chamado de “contracultura”. Os escritores Beat davam ênfase a um engajamento visceral em experiências com as palavras combinadas com a busca a um entendimento espiritual mais profundo, (e muitos deles desenvolveram interesse no Budismo).

Como o poeta francês Rimbaud, acreditaram que poderiam alcançar um “grau maior de elevação da consciência” através do desregramento dos sentidos, e por isso não dispensavam o uso das drogas, em seus primórdios.  Os ecos da Geração beat pode ser vistas em muitas outras subculturas além da cultura hippie, como na dos punks, etc.

[7] Em sua obra “O Príncipe”, em especial do capítulo 18, em que aparecem os trechos: “…um príncipe  (…) não pode observar todas as coisas pelas quais os homens são chamados de bons, precisando muitas vezes, para preservar o Estado, operar contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião”.

Aqui, “preservar o Estado” refere-se aos fins e “operar contra a caridade etc…” é interpretado como utilizar quaisquer meios. No mesmo capítulo, Maquiavel ainda diz: “nas ações de todos os homens, especialmente nas dos príncipes, quando não há juiz a quem apelar, o que vale é o resultado final”. É uma simplificação bem empobrecedora.

[8] O inventor da lâmpada Thomas Edison, um dos mais célebres inventores dos últimos séculos, alcançou esse posto também por suas frases memoráveis e inspiradoras, além das próprias criações geniais.

[9] A guerra da Lagosta, como denominado jocosamente à época pela imprensa, foi um contencioso entre os governos do Brasil e da França, que se desenvolveu entre 1961 e 1963. O episódio faz parte da História das Relações Internacionais do Brasil, e girou em torno da captura ilegal de lagostas, por parte de embarcações de pesca francesas, em águas territoriais no litoral da região Nordeste do Brasil.

Alertada por pescadores brasileiros, uma embarcação da Marinha do Brasil flagrou barcos de pesca franceses pescando lagosta clandestinamente  na costa de Pernambuco, em águas territoriais brasileiras, sendo convidados a se retirar.

O episódio passou a ser referido nos meios de comunicação brasileiros como a Guerra da Lagosta, um conflito em que, como a famosa Batalha de Itararé, durante a Revolução de 1930, não foi disparado um tiro sequer.

Na imprensa francesa, diante dos protestos dos pescadores de lagostas sobre os seus supostos direitos de pesca, travou-se um aceso debate sobre o enquadramento da lagosta enquanto item de pesca e outras considerações sobre sua classificação como bem patrimonial do Brasil.

[10] Rabindranath Tagore (1961-1941) alcunhado de Gurudev, foi polímata bengali. Como poeta, romancista, músico e dramaturgo, reformulou a literatura e a música bengali no sinal do século XIX e início do século XX.  Como autor da obra que em português se chamou “Oferenda Lírica”, sendo o primeiro não-europeu a conquistar em 1913 o Prêmio Nobel de Literatura.