A figura do atual Presidente da República se aproveitou, ardilosamente, do precioso vácuo no debate sobre segurança pública, para montar uma tropa de eleitores armados. Além, é claro do fato de termos uma democracia frágil e recente.

A instituição reiterada de políticas autoritárias o habilitar a promover disparates, absurdos e, sua administração disfuncional e caótica ainda em plena pandemia de coronavírus. Aliás, sua metralhadora giratória mira, certeiramente, analistas, jornalistas e cientistas (de toda ordem: das ciências sociais, médicas e até biológicas) e sua argumentação temerária representa um acinte para as instituições democráticas.

Academicamente, os intelectuais arquitetam teses justificadoras do caos e das constantes bravatas bolsonaristas, alguns insistem em minimizar e outros o superdimensiona e, pelo menos temos que considerar a metódica política na segurança pública.

Afinal, é por meio das forças policiais que pretende destruir todas as bases da chamada “Nova República”, recém criadas pela redemocratização e pela Constituição Redentora.

O perfil e a atuação do atual Presidente da República são resultantes das bases sociais da política brasileira e ainda, das relações entre Estado e sociedade.  Ele não corporifica não somente um embate entre valores autoritários e valores democráticos, e sim, de concepções geopolíticas onde se pretende que as forças policiais assumam o controle da ordem social.

É o famoso Estado policial ou policialesco. Mas ele não inventou a pólvora, apenas catalisou os diferentes interesses particulares que enxergam na universalização dos direitos humanos, civis, políticos, sociais e ambientais como algo que não é cabível no orçamento.

Afinal, a cidadania brasileira continua sendo regulada com base em estratificação social e racial da população. E, a contundência emergente do populismo de extrema direita, vem a calhar, e deve ser encarada não apenas como causa, mas, igualmente como efeito de nossa frágil democracia e decrépito liberalismo.

A história do Brasil sempre foi traduzida em uma trajetória de violência e desigualdade que divorcia a população entre os “cidadãos de bem” que são dotados de direitos e, os outros, bandidos que devem ser perseguidos e eliminados, a qualquer custo. No melhor estilo, bandido bom é bandido morto! Numa bipolaridade estúpida e incapaz de prover algum diálogo.

E, assim, reproduzimos o ciclo peculiar (e miserável) da América Latina com altas taxas de violência, pois é a região do planeta que responde por cerca de um terço de homicídios e, nosso país, já contribui com honrosos três por cento e, cerca de dez por cento de todos os assassinatos no mundo.

Nesse ambiente disjuntivo da segurança pública construiu narrativas que justificam seu projeto de poder e, enfatiza a identidade profissional de policiais e, assim, aliado ao conservadorismo político visa estimular o protagonismo radical, bem assemelhado ao que já ocorreu na Alemanha, Bolívia, Chile, Colômbia, EUA, França, Itália e Índia. Enquanto discursa, o satânico ciclo se repete e, como já profetizou Ariano Suassuna:” envolta do abismo, tudo é beira!”

 

Referências

DE LIMA, Renato Sérgio.  O Encantador de Polícias. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/o-encantador-de-policias/?utm_campaign=a_semana_na_piaui_94&utm_medium=email&utm_source=RD+Station  Acesso em 28.01.2022.